sábado, 27 de junho de 2009

Amplexo


Amplexas recordações chegam
quando escondo por trás do húmido travesseiro
o rosto ausente e já confusa fico
na memórias dos momentos
que calmamente nos contemplamos.
Surgem lentas como o fumo do meu cigarro
num frágil passar de imagens
o tumulto do passado
sem que uma só esperança rubra nos salve.
Apagadas as fronteiras hostis do presente
uma tibieza convida a penetrar
as horas tórridas passadas,tomadas
na profunda consciência do teu rosto acostumado
pelo hábito da tradução desnuda.
Como se estivesses a esculpir as formas do meu corpo
e, posto o sangue a correr na inteireza do impossível.
Foto & Texto by: HC

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Epopeia do Desamor



Roxos fragmentos transparecem súbitos
em redoma flamejante de sangue solar.
O coração de tristes cordas
sonha altíssimo em notas de areia densa,
pelos recantos mais ocultos da mente ou das minhas botas.

Atam nós de marinheiro pela superfície arenosa
e, salta nos meus olhos uma onda quimérica,
Tsunami dos confins, do aquém e além-mar dos delfins.

Ampliam braçadas, troam palavras calcinadas do degredo ao sul
só para ser semente no teu deserto,
onde meu trilho grava teu rasto…
… ao longe oiço teu desamar.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Labirinto



Há labirintos que se percorrem para matar o tempo; outros há que se percorrem porque o tempo nos mata.



Pensamento by: HorrorisCausa

Imagem by: Rogério Pinto

domingo, 7 de junho de 2009

Amanhâ

Amanhã, montaremos o pedestal do domínio do mundo.
Adivinharemos, a paisagem árida, o sonho dos espantalhos nucleares, a combustão das florestas
à sombra dos desertos.
Celebraremos então, as cinzas dos frutos sob um sol de trevas.
Dar-nos-emos à morte como prémio.

Texto by: HorrorisCausa
Desenho a nanquim by: Paula Baggio

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Dialogo de vultos



- Onde estamos?

- Estamos mortos.


E sem prestar a mais leve atenção, entregamo-nos

como quem surge da bruma, sem alguma inquietude,

descarregamos o fardo das intempéries nos tordos recantos.


Foi o amanhecer de Primavera manhã.


Alisamos o cansaço da pele de chuvas e ventos

Sentamo-nos lado a lado

e, foi viver os aromas da estadia.


Demo-nos ao coração singelo

Incendiou-se melodias já esquecidas

da água e do fogo

Encorajamo-nos a preservar a não sofrer amarga morte.


Diante dos nossos olhos,

estenderam-se caminhos que conduziam à vida.

Abraçamo-nos num abraço demorado

e poderosa luz que infundiu nos nossos lábios.


Com olhos d´ água e fogo d´alma

caminhamos até ao horizonte e pedimos uma última palavra:

- Com que nome poderemos recordar-nos?


Quase sem voz, acenamos um adeus.

E, desde então nossa vida tem sido apenas,

um esperar por nós, sabendo-nos ressuscitados.
Texto & Foto by: Horroriscausa

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Texto by: HorrorisCausa

Video by: Conceição Bernardino

sábado, 30 de maio de 2009

Cenário


E de súbito, a alma. Tempestuosa alma, na ampulheta dos instantes cegos, que o olhar guardou para nos embalar na voragem de enevoadas madrugadas…com que nos desnudámos.
Entre o grandioso e precário, descobrimos limites:
Vermelhos e azuis, imensos, imersos, eruptivos néons
na vastidão alada de uma outra lucidez alucinada.

Estelares amplexos, de esplêndidas telúricas, cósmicas transfigurações, mistura de criaturas de um mesmo, único gesto.
Espíritos vagabundos, nómadas da inspiração que rompem os limites conhecidos do espaço…

(baile de máscaras, dança nocturna e solar, bailam os amores inconfessados)

… É no mesmo espaço fragmentado, ensaiado na plenitude imaginada que nos embala e nos assombra o cruzar dos nossos passos…
…É nos passos que têm que ser leves à descoberta, reduzir ao parco movimento que ritma o vagar das águas incendiadas. Ou tendem lentas, lentas a ficarem estagnadas…
…É nas águas que nos banha que vem o sal com que nos damos o que precisam, o sémen como vitória do eterno, sobre a carne, à noite, pelo sono da lua esparsa…

… É na pouca luz que permanecemos ocultos como se essa fosse a nossa fragilidade. Oscilam brilhos devagar, desenhando no papel de cenário nossas almas em fuga.
Foto & Texot by: HorrorisCausa