sábado, 30 de maio de 2009

Cenário


E de súbito, a alma. Tempestuosa alma, na ampulheta dos instantes cegos, que o olhar guardou para nos embalar na voragem de enevoadas madrugadas…com que nos desnudámos.
Entre o grandioso e precário, descobrimos limites:
Vermelhos e azuis, imensos, imersos, eruptivos néons
na vastidão alada de uma outra lucidez alucinada.

Estelares amplexos, de esplêndidas telúricas, cósmicas transfigurações, mistura de criaturas de um mesmo, único gesto.
Espíritos vagabundos, nómadas da inspiração que rompem os limites conhecidos do espaço…

(baile de máscaras, dança nocturna e solar, bailam os amores inconfessados)

… É no mesmo espaço fragmentado, ensaiado na plenitude imaginada que nos embala e nos assombra o cruzar dos nossos passos…
…É nos passos que têm que ser leves à descoberta, reduzir ao parco movimento que ritma o vagar das águas incendiadas. Ou tendem lentas, lentas a ficarem estagnadas…
…É nas águas que nos banha que vem o sal com que nos damos o que precisam, o sémen como vitória do eterno, sobre a carne, à noite, pelo sono da lua esparsa…

… É na pouca luz que permanecemos ocultos como se essa fosse a nossa fragilidade. Oscilam brilhos devagar, desenhando no papel de cenário nossas almas em fuga.
Foto & Texot by: HorrorisCausa

sábado, 23 de maio de 2009

Quando vejo uma porta aberta...tenho medo!


Deixa-me cair onde é fundo
no âmago da tua nova existência.
No vórtice mais alto da apocalíptica emoção,
sem rosto, sem penas,Transfigurada,
ansiando osmose mítica do fôlego.

Chegar a um caído céu escuro albino
pelo líquido genital
engolida lama com narina luciferina
base de inesperadas explosões – Genésico! Imaginada,
a anis respirações.

É que encontrei esta pena negra
dorme serena na palma da minha mão
e de todas as maneiras que digo: Voa!
é tua voz que escolho.

É que quando ela passa por mim, faz-me cair
Liberta criaturas devolvendo-lhes o sentido de orientação,
dos poros da alma ainda virgens.

Deixa-me cair no teu fundo
partir do efémero e do vulgar
captar o toque da morte
porque a morte é uma espécie de eterna cura.

Não sabes a sorte que tens!

A morte faz-nos descer aos céus
de onde nunca deveríamos ter saído
onde nunca deveria ter pisado com meus pés.

Deixa-me cair no teu fundo
Deixa…Mas, não acendas as velas
É que quando vejo uma porta aberta, sabes?
Tenho medo!

Texto by HorrorisCausa
Foto by (extraido do Google-imagens)

quinta-feira, 21 de maio de 2009

A dois passos...



Sinto sombras a correr-me nas veias,
a estalarem nos pés imóveis
Sinto a maldição a lacerar-me a carne
este corpo que o tempo corrompe e devora
a cada palpitação, a cada indício.

E não tenho tempo
Não tenho tempo de ter mais tempo.

Condenada afundada na lama e na ferrugem
lamaçal pútrido
Gritos indomáveis ao caos,
ao violento crucifixo
fixo, nas entranhas da alma
cosida a suturas felizes.
Recompõem a dor equilibrando-a
rodopiando-a abstraída
do umbral da minha in-consciência.

Ainda que a invoque como santo desígnio
sobrevive à minha própria história,
à minha in-existência
desde a alvorada em que nasci.

Com a arma encostada, disposta ao alcance
de um grito, silencioso expectante,
a dois passos do precipício ou do paraíso.

Não sei!
Foto e texto by: HorrorisCausa

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Segundo Beijo

Sempre desaparecido, sempre incógnito, sempre ausente... ...mas, mesmo assim, sempre indelevemente tatuado em mim. De onde nunca sairás, por mais que eu queira.
Não te prendo, não te agarro com os dedos... não te pergunto de onde vens nem sequer para onde vais...apenas reclamo um pedacinho de ti, aquele pedacinho que me deste, que é meu, que é nosso...que é eterno.
Não me o negues para sempre! Deixa que eu viva um bocadinho em ti, deixa respirar-te...deixa olhar-te... ...e num último assomo, dar-te um beijo. ...um beijo de despedida, um adeus vago, um “olá” presente, um até amanhã.
Porque estás em mim. E eu, como te prometi na canção, lamberei as nossas feridas... ...lamberei as tuas pugentes cicatrizes...a minha alma obscura ...a minha confissão negra até à limpidez.

A nossa luz de escuridão, só nossa, de mais ninguém. E nela vivemos, nela nos unimos unicamente, nela nos damos à volúpia das emoções, nela somos um, nela somos e existimos.Mesmo que seja apenas num sonho imaterial. Mesmo que seja numa só palavra calada.
Ou num efémero poema por escrever.Digo-o aqui, longe dos teus olhos e do teu fôlego: Existes em mim! ÉS em mim!
Pudesse eu, por uns momentos, nem que por míseros e insignificantes instantes ser em ti. Ser-te, Ter-te, Dar-me. Dar-te o instante que pertencemos.

A ausência, o silêncio...são os nossos livros de ponto e pedidos de ajuda.
A claustrofobia que toma conta do palco dos nossos sentires.E nós deixamo-nos movimentar tais bonecos articulados...deixamo-nos manipular numa maré sem rumo... cujo único fim...é sempre o mesmo começo: Uma nova aurora. Uma luz que trespassa. Um medo assombroso de voltar a renascer em ti,em mim, em nós.
Mas a coragem resulta em dizer-te: fazes-me falta. Como um abrigo seguro. Como um negro anjo redentor. Como um deus de odores. Como uma flor hedonista. Como um desejo pintado a cores.E um relógio que corre...
Amanhã será nosso. Basta vermos por cima dos ombros de hoje.Levar-te pela mão? deixar pousar o teu sonho em meu regaço?Afinal... ...só quero-te aqui, presente, tangível, vivo, real.
A utopia... já a apaguei. Mas a certeza da tua presença, o mérito do teu espírito....guardo-os eternamente. Até ao dia em que os abutres das incertezas se vão com embora. E sinta, atrás de um sorriso, que vale a pena fechar os olhos e sentir.E esse segundo é um beijo partilhado.

Foto e Texto by HorrorisCausa

domingo, 17 de maio de 2009

Afectos Nomadas




Ousamos ser fazedores de Arte. Dir-se-ia que essa condição de transformar a percepção em algo denso para os sentidos é uma fatal necessidade interior que gradualmente se torna numa missão imperiosa do nosso quotidiano, tão natural e necessário quanto o respirar.Ousar criar momentos de Arte não se reduz a um mero risco que ocorre sem equacionar impactos. É antes de mais uma atitude que, num impulso criativo, consegue o "milagre da concepção" e a responsabilidade instala-se. A capacidade que encontramos em recolher matéria multifacetada e de transformá-la de acordo com nosso imaginário inesgotável. Acreditar que vemos aquilo que ainda ninguém viu, oferecer ao nosso olhar a nossa afectividade, tudo aquilo que julgamos ser verdadeiramente único e eternizar num momento de criação tão especial, faz de nós seres únicos na criação. O acto da metamorfose, espectáculo grandioso, tecido feito pela nossa intimidade através do ritmo das nossas emoções, leva-nos a momentos verdadeiramente apoteóticos. A magia com que fazemos as coisas, leva-nos a redescobrir e valorizar alguns porquês que anteriormente permaneciam enigmas. Desvenda-se o mistério que encerra em nós próprios quando conseguimos libertar a arte outrora aprisionada e que neste espaço e momento tem o condão de nos emocionar. A arte não se sedentariza, é a mais perfeita forma de comunicação dos afectos nómadas.


Dedicado a todos os nomadas.
Foto e texto by: HorrorisCausa